Desculpa Aí

Desculpa aí..

Estamos no ar, de volta com Papo Editado, e assim, já vou deixando o meu Desculpa aí, mas não pelo hiato ou por qualquer outra coisa. Este Desculpa aí é para forçar um trocadilho com o podcast do nosso entrevistado: Emerson Alves, do Desculpa Qualquer Coisa Podcast.

Bem humorado, simpaticão, boa praça, e sim, até então so tenho elogios ao nosso convidado. Dono do podcast que se intitula o mais aleatório da podosfera, e que até então faz jus ao título.

Dentre os diversos podcasts lançados pelo selo Desculpa aí, quer dizer Desculpa qualquer coisa, destaco e recomendo o episódio 25 – Uma Ode à Alegria

Uma Ode à Alegria

SIDNEY ROCHA

Quando você estiver sozinho, realmente sozinho
Quando suas pernas fraquejarem e no seu peito reinar o hálito de todas as mortes precoces
Quando a porta do seu quarto desconhecer a extensão do corredor e da sala e descambar no precipício do assoalho vazio

Quando seus amigos (claro, os seus amigos de algum dia
que não mais os de hoje) permanecerem todos lá na lonjura da ponte sem esperar mais nada de você, senão uma saída que os convença

Quando na sua carteira a identidade for só um papel gasto onde um rosto jovem adormece

Quando você não tiver dinheiro nem paz nem força e achar que essas duas últimas grandezas
jamais poderão existir sem a primeira

Quando o seu corpo parecer infinito
Em dor em agonia em desespero em…

Quando tudo aquilo para o qual lhe preveniram realmente aconteceu e você sentir um medo pavoroso do que lhe está prestes a vir

Quando você urrar até a vertigem

E se ver completamente cego
De dor de agonia e de desespero de…

Quando acabarem os cigarros, o crédito nas bodegas do bairro
E também quando não existir uma vivalma que lhe pague um trago

Até mesmo da bebida que você mais odeia
E quando pra piorar as coisas (porque isto sempre possível: as coisas piorarem)
Você estiver sido pecado pelo escorpião da literatura
E sentir que, com o tempo, está inchando até explodir

Quando a sua máquina lhe parecer uma desconhecida
E lhe olhar de uma altura de mil pés por sobre suas teclas duras e o carretel de fita mil vezes
Rebobinado a mão por você próprio

Quando o último livro parecer ser de um outro autor

Quando você desejar profundamente ser uma pessoa comum

Quando você já não se reconhecer
Transando, amando, fumando
Sua dor sua agonia seu desespero seu…

Quando sua vontade for pedir piedade ao mundo ou querer que lhe sacrifiquem
Mas que lhe deixem definitivamente em paz

Quando você não souber fazer contas com mais de duas parcelas
Nem a sua língua servir para dizer o que realmente você sente

Quando você se sentir ultrajado, incompreendido, enganado, roubado, vigiado, perdido…
Sozinho, realmente sozinho
E não souber mais a diferença

Quando você sentir vontade de chorar e não fazê-lo porque já conhece
Aonde o seu choro não vai dar

Quando não houver nada, simplesmente nada
Nada nada nada nada
Esteja pronto!

Recolha o que puder
Aquilo que estiver a mão
Agarre tudo sem hesitações maiores (as coisas que lhe fugirem dos dedos ficarão ali para sempre é preciso aceitar isso)

Roube de si mesmo tudo o que puder e couber do vazio no qual você mergulhou
Não espere nada mais, nenhum segundo mais sob o risco de explodir com o que ficou nas gavetas do você ideal

Siga como puder, mais sem cobranças

Faça de contas que você se matou ou que é dois – isso também ajuda
E que, sendo assim, não se dê à burrice de cair duplamente nas fossas
(Da sua dor da sua agonia do seu desespero do seu…)
De onde só poderá sair um vivo e lute muito para que seja você

E não se entregue jamais ao seu choro ou ao seu apelo

Descubra que sendo dois um de vocês quer lhe levar à loucura
À dor à agonia ao desespero ao…

Note que isso é só uma guerra pessoal e – por favor – não peça piedade
(Perdoe somente algumas vezes)

Escreva – isso complica mais
Mas – pode acreditar
No final terá sido necessário

Redescubra a força das palavras quando untadas de verdade
Com sua dor com sua agonia seu desespero seu…

Tira lasca de fogo delas

Aproveite delas a força natural que todas as coisas têm e si dirigem ao centro da terra

Escreva sem perseguições com nada
Escreva como se música tocasse dentro de você
Escreva como se você dançasse

Como se fosse gago e estivesse nervoso e quisesse anunciar um desastre
E, caso tropece muito nas palavras uma multidão inteira pudesse morrer
(E você não quer isso, nós sabemos)

Escreva como se dependesse disso as pedras os rios os mares a caatinga
O vale os bichos os céus os mudos os surdos os inaptos de toda natureza

Atire-se da altura dos adjetivos e como alguém realmente irado
Não procure a palavra exata
Melhor: encontrando-a, deixe lá,
Não acredite nela
Nunca creia em miragens

A palavra exata é um embuste
É como a mulher ideal
O emprego ideal
O amigo ideal
Estas coisas não existem, meu amigo

Sua dor é que existe
Sua dor sua agonia seu desespero seu…

Lide com isso
Nunca esqueça

Quando você estiver só
Sozinho realmente
Retire o seu caminho da sua dor
Da sua agonia a vontade de continuar
Do se desespero algo que possa
Valer para a humanidade inteira

Não conseguindo meu irmão continue escrevendo
(Escrever é pura continuação
do homem a partir dos dedos)
Continue vivo ou faça qualquer coisa que lhe dê a mínima sensação
De que você continua continuando.

Agradecimentos:

Agro Resenha Podcast
Desabraçando Arvores
Desestresse Podcast
GNH Podcast
NaTrilha Podcast
Podcitário
Podcrastinadores
Saúde Digital Podcast